Deixamos a porta aberta



Ontem, deixamos a porta aberta
Talvez tenha sido por inocência
Ou foi somente um simples acaso de uma coincidência

Eles falam para sempre trancar
-Gire três vezes por segurança
-Vai que algo pode entrar
Quanta insegurança
-Tranca a porta, fecha ela, se assegure, olha lá
Tiros e tiros, tiroteios de barulhos silenciosos
-Fecha a porta, você está louco? Fecha Fecha

Ontem, deixamos a porta aberta
Que feliz acaso de nosso incerto destino
Será que aguardávamos por algo chegar?
Aguardávamos o inesperado se apoderar

Rumores vieram através dos pássaros de uma grande frente vindo do norte ou do sul carregando massas de ares que se originaram provavelmente por conta de um movimento circular no meio da praça
Ultrapassaram as colinas, passaram pelos pastos, driblaram as ilusões
Entraram nas aldeias, contaminaram todo o oxigênio daqueles que vivem na Lua
Oxigênio? Não, respiramos moléculas de palavras

Ontem a porta estava aberta
Estamos nós lá, aguardando o que não esperávamos
Quando chegou, nossos ossos voltaram a ser poeira
Nossas roupas sumiram, nossos olhos se abriram

Estávamos em volta da lareira para nos proteger do frio
Fomos congelados por séculos
Até despertarmos para uma nova realidade
Novas roupas, novo sistema esquelético

Amigos, chegou a nossa nova versão de nós mesmos, quente do forno
Chegou a inspiração na qual respiramos.
Matamos o que teria que ser morto para nascer o que precisava ser nascido
E transformar o que precisava ser transcendido

Bem que falaram para deixarmos a porta fechada
E ainda bem que não demos ouvidos
Deixamos a inspiração entrar
Ela foi até a lareira.. De um singelo e tímido fogo, conseguiu aquecer as almas de todas nossas vidas
E outras que estavam congeladas desde a era do gelo

A inspiração nos fez transbordar
Até a última gota do oceano
Até a estrela mais distante
Até o grão mais fino
Até a joia mais brilhante

Senhores, Senhoras, como fechar algo que nasceu aberto
Nessa noite, dancemos ao som da lua
Nessa noite abrimos as portas
Nessa eterna e gloriosa noite, os copos sobem até os céus
E quando brindamos, fazemos luzes, que iluminam os polos do planeta
Luzes que iluminam as portas de cada ser humano para que seja aberta e que deixe a ventania do ártico das arábias entrarem e tornar essa lareira um fogo que esquente o sangue

Hoje esperamos, e ela chegou, apagou as velas, passou pelos pastos, pelos planetas, pelas galáxias, e chegou tão potente quanto a vida e a morte, chegou com o olhar mais profundo que já havia se registrado em toda história

Tem alguém batendo na porta, quem será? Está esperando por alguém? Ou por algo? Ou por uma esperança?
Pois bem, Deixarei entrar, tomaremos o que tiver, comeremos o que for possível, trocaremos ideias, e viveremos esta noite. Entre por favor, sinta-se em casa. Muito prazer. Quem és?
Sim, posso me sentar, sim, posso me levantar, sim posso sorrir, cantar, falar e chorar.
Não não não, não posso.. mas podemos., eu? não não posso, mas nós podemos.. vamos? por favor, depois de você, obrigado.

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